quarta-feira, 13 de junho de 2007

JOSEPH ALOIS SCHUMPETER

SCHUMPETER E A QUEBRA DE UM PARADIGMA








1. SCHUMPETER E A TEORIA DO EQUILÍBRIO GERAL


2. A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO


3. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA


4. O EMPRESÁRIO INOVADOR E O CAPITALISTA


5. O BANQUEIRO E O CRÉDITO


6. A DESTRUIÇÃO CRIADORA










1. SCHUMPETER E A TEORIA DO EQUILÍBRIO GERAL

Em sua juventude, Schumpeter escreveu uma magnífica sistematização da ciência econômica, enfatizando a Teoria do Equilíbrio Geral[1], em livro chamado “Das Wesen und der Hauptinhalt der theoretischen Nationalökonomie”[2] (1908). Esta obra foi elogiada em vida pelo próprio Leon Walras, a quem Schumpeter muito admirava. Segundo SILVA (2002), as indagações feitas neste livro servirão de embasamento para os posteriores trabalhos de Schumpeter. As questões por Schumpeter abordadas, sempre envolvendo a ciência econômica e seu caráter científico, sua interação com outros campos do conhecimento, o papel da matemática em possíveis modelagens, bem como a diferença entre estática e dinâmica, estado estacionário e desenvolvimento, abrirão caminho para futuras conclusões que influenciarão gerações de economistas, mudando o modo de se fazer ciência econômica.
O modelo walrasiano tem como premissas básicas o estado comercialmente organizado com propriedade privada, divisão do trabalho e livre concorrência. O caráter estático deste modelo pode ser captado pela idéia de que o sistema de valores vigentes no período presente irá determinar o comportamento dos agentes no futuro, estando suas reações determinadas pelos métodos econômicos usuais. Logo, o sistema econômico estará sempre vinculado ao estado anterior, e toda oferta criará sua demanda, inexistindo mudanças na esfera econômica de caráter endógeno. Schumpeter chama este modelo de “Fluxo Circular”. SOUZA (1995).
Neste sistema a variável ‘preço’[3] é a informação econômica determinante, embasando as decisões dos agentes, subjugando a criação e utilização de tecnologia na esfera produtiva. O consumidor é considerado o líder do processo produtivo, pois é a partir das preferências dele, aliado ao processo de maximização do lucro pela firma, que ocorre a orientação do processo produtivo.
Os agentes econômicos possuem racionalidade absoluta e o ambiente econômico é marcado pela perfeita simetria de informações. O crescimento econômico está ligado ao ritmo de crescimento demográfico e ocorre o pleno emprego simultâneo dos fatores de produção nos mercados de bens, trabalho e capitais.

2. A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

Schumpeter propõe a ruptura[4] com esta maneira de modelar a economia em seu livro “A Teoria do Desenvolvimento Econômico” (1911). Até ali, o desenvolvimento econômico era tema pertencente ao campo da História Econômica.
Partindo da análise da dinâmica econômica não captada pelo modelo de equilíbrio geral[5], onde desenvolvimento econômico era sinônimo de crescimento econômico, Schumpeter redefine conceitos e cria novas categorias teóricas que permitem uma análise inédita dos saltos qualitativos existentes no mundo concreto. A definição de Schumpeter para desenvolvimento econômico é:
(...) uma mudança espontânea e descontinua nos canais de fluxo, perturbação do equilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente existente. (SCHUMPETER, 1982, pg. 47).

Assim, o processo de desenvolvimento econômico é resultante de mudanças revolucionárias (não mais vinculadas ao passado) geradas no bojo do sistema produtivo econômico.
Entenderemos por “desenvolvimento”, portanto, apenas as mudanças da vida econômica que não lhe forem impostas de fora, mas que surjam de dentro, por sua própria iniciativa. (SCHUMPETER, 1982, pg. 47).

Como um esforço de criar uma teoria que incorpore fatos do mundo concreto de maneira mais efetiva que seus predecessores, Shumpeter considera o ambiente econômico permeado por incertezas, principalmente no tocante à realização da produção, e o tempo econômico passa a ser fundamental, pois as decisões dos agentes no presente impactam o comportamento do sistema econômico no futuro.

3. A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

O desenvolvimento econômico, em Schumpeter, está embasado na inovação tecnológica, promovida pelo empresário inovador. A inovação é definida como um processo de orientação inédita dos fatores de produção, no intuito de introduzir na esfera da vida econômica os seguintes componentes:



a) novo bem;
b) novo método de produção;
c) novo mercado;
d) nova fonte de matérias-primas;
e) nova organização de qualquer tipo de indústria.



Porém, a introdução desta nova configuração de fatores de produção, em qualquer uma das cinco situações propostas, deve ocorrer de maneira radical, ou seja, não resulta de ajustes estruturais efetivados com o passar do tempo[6].
Esta inovação radical irá competir com a antiga combinação de fatores de produção e acabará por substituí-la, repercutindo os efeitos decorrentes desta mudança por toda a economia. LIMA (1996).

4. O EMPRESÁRIO INOVADOR E O CAPITALISTA

A inovação tecnológica nasce das mãos do empresário inovador[7], que ao obter crédito junto ao sistema financeiro, controla e reorienta os fatores de produção. O empresário, em Schumpeter, não é o capitalista e tampouco o administrador dos negócios, pois sua existência é restrita ao intervalo de tempo que compreende a criação, desenvolvimento e realização da inovação. Em outras palavras, ele é responsável pela transformação de uma invenção tecnológica em liderança econômica. SOUZA (1995).
O empresário inovador é dotado de uma força de vontade superior à média da população, pois enfrenta as dificuldades impostas pela resistência às mudanças que a coletividade impõe. Assim, ele manipula o ambiente produtivo exercendo uma função de liderança, confiando na sua intuição e motivado pelo prestigio social ou, principalmente, pela esperança dos lucros extraordinários oriundos do sucesso da inovação. SCHUMPETER (1982).
Na teoria de Schumpeter, o capitalista (detentor dos fundos de poder de compra) tem a função de emprestar dinheiro para o empresário inovador, adquirir títulos no mercado financeiro e especular na bolsa de valores. O capital, para Schumpeter, é sinônimo de um fundo de poder de compra, nada mais que o total dos meios de pagamento disponível, em dado espaço de tempo, para o fomento das inovações pelo empresário.





5. O BANQUEIRO E O CRÉDITO

Schumpeter utiliza também a figura do banqueiro, que capta recursos financeiros junto aos capitalistas e os disponibiliza aos empreendimentos do empresário. O banqueiro, porém, pode ampliar a quantidade de meios de pagamento em uma economia, com o intuito de transferí-lo ao empresário. Esta criação de poder de compra é a materialização do desenvolvimento econômico, permitindo aos empresários o adiantamento da propriedade da produção social e promovendo a realização de inovações. A isto Schumpeter chama de crédito[8].
O crédito, presente apenas para inovações e não para a esfera do consumo, é essencial para o sucesso do empresário, visto que este não detém a propriedade dos meios de produção.
A emissão de crédito pelo banqueiro gera, na economia, uma onda inflacionária. A inflação resulta dos altos preços estabelecidos pelas empresas inovadoras e decresce à medida que as conseqüências da concorrência oriundas do fenômeno da imitação espalham-se pela economia.


Figura 1. Diagrama dos elementos conceituais em Schumpeter.

FONTE: O autor.



6. A DESTRUIÇÃO CRIADORA

Neste processo de crédito – inovação – imitação, ocorre o que Schumpeter chamou de ‘destruição criadora’. Os empréstimos elevam o preço dos fatores de produção, transformam as combinações antigas, menos produtivas, para novas configurações, mais produtivas. Como conseqüência, as empresas com menor dinamismo e que não atendam às novas especificações produtivas são eliminadas.
A eliminação das empresas menos produtivas reduz a demanda por crédito e por fatores de produção. Aliado a este fato, os elevados lucros criados pela inovação (lucros empresariais) permitem às empresas o pagamento dos empréstimos feitos anteriormente além de possibilitar uma condição de autofinanciamento. Disto decorre uma deflação, devido a uma contração da oferta monetária. LIMA (1995).










Tabela 1.Quadro resumo da teoria de Schumpeter sobre o desenvolvimento econômico.



TESE
Teorizar sobre o desenvolvimento econômico, como processo diverso do crescimento econômico, baseado em pressupostos próprios.


PONTO DE SAÍDA
Crítica à capacidade da Teoria do Equilíbrio Geral em explicar a dinâmica evolutiva econômica de uma sociedade capitalista.


OBJETIVO DO ESTUDO
Expor os principais componentes atuantes no processo de desenvolvimento econômico e suas inter-relações. Mostrar o caráter descontínuo da evolução econômica.


METODOLOGIA
Ênfase no papel do empresário inovador, como indutor de cinco tipos de inovações capazes de gerar mudanças de natureza endógenas no circuito econômico. Estudar o papel do crédito ao produtor, proveniente do capitalista e disponibilizado pelo banqueiro. Apontar a existência e causas dos ciclos econômicos.


RESULTADOS
O desenvolvimento econômico ocorre via inovações difundidas através do empresário e sustentadas por crédito, na sociedade capitalista, a partir de dentro da esfera econômica.


[1] Schumpeter acreditava que a fronteira da economia teórica estava no sistema de equilíbrio geral estático walrasiano.
[2] Das Wesen und der Hauptinhalt der theoretischen Nationalökonomie, foi publicado apenas em alemão (menos de 1000 cópias), japonês e italiano. O livro, já em 1931, havia virado peça de colecionador.
[3] “Neste sistema social de valores se refletem todas as condições de vida de um país... O sedimento do sistema social de valores é o sistema de preços”. (SCHUMPETER, 1982, p. 42)
[4] Uma discussão interessante sobre a dinâmica de Schumpeter e suas relações com a noção de equilíbrio walrasiano está presente em Lima (1996).
[5] Segundo Schumpeter (1982), o instrumental analítico do modelo de equilíbrio geral falha na análise dois pontos centrais: as mudanças geradas no interior da economia e sua correlata descontinuidade temporal.
[6] Ainda que não seja a regra, as empresas novas são as indutoras por excelência das inovações. “(...) em geral não é o dono de diligências que constrói estradas de ferro”. (SCHUMPETER, 1982, pg. 49).
[7] O empresário é o indutor da inovação, porém “(...) nunca é aquele que corre risco. Quem concede crédito sofre os reveses se a empresa fracassar”. (SCHUMPETER, 1982, pg. 92).
[8] Segundo SOUZA (1995), Schumpeter é o idealizador do moderno banco de desenvolvimento.

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